quinta-feira, 11 de maio de 2017

Veia

Quase nos tiram nós
de nós mesmas.
Quase...
 
Investigo-nas,
nós mesmas.
Minhas velhas,
nas minhas veias.

Quando nos fizeram rivais?
Quando nos fizemos rivais?
Umas das outras...
Panteras contra lobas,
onças versos raposas,
vacas versos touras...

Em que lua deixamos de lunar? Reconhecer nossas avós, bisavós,  tataravos?...
Em que data longínqua essa voz primeiro nos faltou? e ecoa esse nó na gola,
de espartilho no ventre, de grilhões...

Quando nos perdemos no caminho? 

Será que nos perdemos?

Em quais gestos nosso pulsar permanece, essa potência, nossa alquimia, nossa força?

Eramos Amor e dançaram-nos
entre brasas.
Nos fizeram duvidar de nosso fogo,
nosso brilho, nossa luz.
Quiseram destruir nossas conexões
Nos ataram, escravisaram, apedrejaram, nos atearam fogo
e nos dissolveram...

Como fumaça, pranto da terra
Subimos as nuvens e desabamos..
Fomos nuvens e caimos.
Retornamos lavadas
E lavando...
Lavandas, capins todas,
lanceadas, cheirosas.
Embebemos a terra de nossa força
Eramos ela, nos sabiamos.

Eramos e somos, sementes, feijoes, espigas cheias, milho, milhares, mulheres da materia mineral, gemas da terra, soma da Terra Mãe.

No magma fervente, nos encontramos
Vaporosas... Criamos sobre as águas novas terras. Apesar da nossas dores, criamos. Criamos, com nossas raivas legítimas, criamos coragem esgarcando traumas, abocanhando a raiz dos medos...

No encontro nosso, de "nosotras", vimos nossas faces variadas, nossa metas em metamorfoses... umas colhendo as outras, entre aspectos da Mãe.

A "Abuela" maior fumando nossos espíritos...

E infinitamente fomos renascendo, remanescendo... chocalhos de nossas sementes... Abrimonas em circulares, em espirais...
Nossos cantos de mãos dadas...

Cada vez que cada mão de encontro acolhe outra,
leva, e leve a roda firme flutua.

Gira redemoinho de água
e mulher moída move.

Encontro santo, somos ela,
fêmea velha da Terra, mãe-avó.

Carnes, pelos, ossos...
A morta que sempre revive.
Seios, sêlos, elos, sangues...
Energia vermelha de Terra,
que lava e adentra a terra...
Rama, rio, veia.
Velha viva que nos remoça,
Sábia velha que nos encanta
Nos faz sabiás!

Cumade Anaíra Mahin

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